Está difícil ser Flamengo hoje em dia. Numa época em que pesadelos dominam as noites rubro-negras, não há um Zico para transformar sonhos em realidade. Entre projetos e promessas, hoje o melhor que se tem a fazer é voltar ao passado. A nostalgia, sem dúvidas, é o melhor remédio para abrir um sorriso em rostos tantas vezes castigados por frustrações. Trinta anos se passaram de um dia que deveria durar para sempre para a maior torcida do Brasil.
Você, torcedor rubro-negro com mais de trinta anos, dificilmente se lembra de onde estava e o que fazia há um atrás. Mas certamente se recorda com quem e como comemorou até o sol nascer a madrugada de 30 atrás. Poucos títulos foram tão marcantes no futebol. Poucos times foram tão brilhantes. Raros foram o que fizeram frente ao esquadrão rubro-negro. Nenhum Liverpool ganharia do Flamengo naquele 13 de dezembro de 1981. Porque se fosse preciso, o destino interviria.
Afinal, aquele time não era normal. Há quem diga que não era deste mundo, como Pelé. Uma constelação de craques, unidos como uma família. Era possível naquela época. A magia de Zico, Júnior, Adílio, Andrade e Cia era o antídoto contra as derrotas. Como se fosse proibido jogar mal e impossível ser derrotado. Um time que só perdia quando tudo não dava certo. Porque não há como dar errado com tanta gente boa junta.
É quase inaceitável a genialidade de Zico não durar para sempre, como a visão de jogo de Júnior, a técnica de Leandro, a segurança de Raúl no gol, a tranqüilidade de Andrade com a bola nos pés, a versatilidade de Adílio, a disposição de Lico, a capacidade de decisão de Nunes, entre tantas outras virtudes de um dos melhores conjuntos esportivos de todos os tempos.
Difícil explicar o praticamente inexplicável. Pior ainda é desmerecer um título único e histórico. Aos que criam teorias e teses para justificar a derrota inglesa em Tóquio, é melhor a opção pelo silêncio. Que os deuses do futebol não os ouçam.
Numa data de tantas recordações e comemorações, é dever dos mais velhos explicar aos mais novos a importância daquele esquadrão. Aos mais interessados, recomenda-se pesquisas, vídeos e textos da época. E, mesmo aos rivais, que o façam em nome do futebol. Não se trata qualquer tipo de jogo, time ou título. Estamos falando da maior atuação do melhor time da história do Flamengo, que culminou no título mais cobiçado por todos os clubes mundo. Não é pouco, não é muito. É absurdo. O que aquele time jogava não está nos livros de história.
Diferentemente dos dias de hoje, nos quais todos jogam, numa regra quase sem exceções, por dinheiro, em 1981 havia um time inteiro de craques a serviço do Flamengo. Craques que amavam ou aprenderam a amar o clube, como Andrade, botafoguense na infância, rubro-negro pelo resto da vida. Craques que fizeram de tudo para vencer as maiores dificuldades que poderiam surgir naquela época. Craques unidos, jamais vencidos. Craques que só se davam por satisfeitos quando viam a multidão sorrir. Craques de verdade.
Hoje, em outro 13 de dezembro, se não pode parar as ruas do Rio de Janeiro na madrugada aos gritos, buzinas e fogos, o torcedor rubro-negro, ao menos, acorda com um sorriso no rosto. Independente da idade, sabe que o dia é especial. Entre a vontade de voltar no tempo e as esperanças de um futuro tão próspero como foi o passado, o presente é um tempo de dúvidas. E uma única certeza: vai ser difícil existir um time como aquele.
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